“Hoje é dia de cerejas!” disse a Julinha, compondo a saia rodada que tinha herdado da avó.
A tia Inha, afadigada com as compras pareceu-lhe ter ouvido algo que não fazia sentido na conversa. “ É dia de quê?”
“De cerejas!”
“E o que é que isso quer dizer?”
“Quer dizer que andamos a falar de tantas coisas, umas atrás das outras e não conseguimos parar de falar!”
“E o que é que isso tem a ver com as cerejas?”
“Ora, não costumam dizer que as conversas são como as cerejas?”
“Lá isso…”
“Então! Ainda não nos fixámos num único assunto importante!”
“E o que é que consideras importante?”
“Importante é, por exemplo, falar da paz mundial, da fome no mundo, das armas nucleares, das catástrofes da natureza e a possível implicação do Homem no seu desencadeamento…”
“Então e falar do senhor Armando que está desempregado há um mês, da filha da Julieta cabeleireira que tem um curso de enfermeira e não consegue emprego, do senhor Manuel que teve de fechar o minimercado porque as grandes superfícies comerciais lhe tiraram a freguesia toda, não são assuntos importantes?”
“…”
“Pois!”
“Vamos lá, então, comprar cerejas e comê-las todas! Pode ser que, assim, os problemas locais e mundiais desapareçam de uma vez!”
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