I
Uma rapariga chega à Rua da Paz de mala na mão e senta-se numa cadeira do Café Central. Ao ser atendida, pede um copo de
água. O empregado faz uma cara de poucos amigos mas regressa com um copo de
água, poisando-o na mesa com brusquidão. A rapariga pega no jornal local,
que está em cima da mesa e procura um trabalho na secção de anúncios. Então, faz um círculo num dos anúncios,
com a esferográfica e, pegando nessa página, rasga-a e leva-a, levantando-se. Chega a uma loja de ferragens e
fala com o patrão. Sai da loja satisfeita e
dirige-se para o café novamente. Lá, fala com a dona do café, que é
gorda e tem mau aspeto. Sai com alguma pressa e dirige-se
a uma casa velha e esguia, com dois andares e um sótão.
Bate à porta com a maçaneta,
primeiro levemente e depois com mais força. Uma velha debruça-se da janela do
segundo andar e pergunta o que quer. Ela responde que procura um
quarto. “Será que a senhora tem um quarto para alugar? Não posso pagar muito
pois acabei de chegar e só amanhã começo a trabalhar!”
A velha desaparece da janela,
fecha-a e demora alguns minutos a aparecer à porta.
Ao abrir a porta, mostra uma cara
antipática, é magra, tem uma verruga no queixo e o cabelo em desalinho preso no
alto da cabeça. Usa avental desbotado e umas pantufas muito velhas. Deixa entrar a rapariga e, por
trás dela, faz um sorriso misterioso. A rapariga entra para uma sala
com um velho sofá cheio de buracos, rasgado, coberto com mantas velhas, um
xaile e um gato preto que a dona sacode, abanando a mão ossuda e comprida. Ordena à rapariga que se sente e
ela obedece. Falam durante algum tempo e a
rapariga acaba por ser conduzida a um quarto. A velha abre a porta do quarto,
fazendo um sinal à rapariga para entrar. Com a cabeça indica-lhe a cama. A rapariga olha para a cama, que
tem apenas um colchão de palha, às riscas azuis e brancas, muito velho. Olhando rapidamente
à volta verifica que só tem um banco como mesinha de cabeceira e uma cadeira
onde poderá pendurar alguma roupa. Nem tapete, nem guarda fato.
A velha faz
novamente aquele sorriso misterioso e fechando a porta, afasta-se pelo corredor
esfregando as mãos de contente, enquanto faz novamente aquele sorriso…
A rapariga
limpa o pó da cadeira e senta-se, desolada, apoiando os cotovelos nos joelhos e
a cabeça entre as mãos… Começa a chorar.
Enxuga as
lágrimas e, olhando para o teto, verifica que não tem
lâmpada. Mais ao lado,
uma pequena janela deixa passar um fio de luz que incide numa das tábuas do
sobrado. Seguindo o fio
de luz com o olhar a rapariga verifica que há uma argola de ferro nessa tábua e
aproxima-se, curiosa, debruçando-se sobre o chão.
( Continua)
2 comentários:
Finalmente regressaram as histórias do Beco da Rua da Paz! Estou com curiosidade de saber o final desta.
Parabéns pelo regresso!
José Alexandre
Isto é mais um roteiro para uma história do que uma história! Para isso teria de ser aperfeiçoda! Obrigada pelo incentivo!Também gostei de ler sobre os azulejos e outras coisas!
Enviar um comentário