Quando Merlin chegou cá fora, pegou na mão da Tatá e perguntou à Bé: “Estás bem?” “Sim!”- respondeu ela. “Mas foi cá um destes sustos!” “E agora?” – perguntou Merlin. “Para onde vamos?” “Vamos procurar a Luna!”- respondeu a Bé. “Vocês os dois vão por aquela rua e eu vou por esta!” “Não!” – retorquiu Merlin. “Não podemos separar-nos!” ” Nem penses!” –respondeu a Bé “Se não nos separarmos temos menos hipóteses de encontrar a Luna! E tu bem sabes como ela não tem sentido de orientação!” “Sim, se a Luna quiser ir para a esquerda o melhor é virar à direita!” - observou Merlin. “Bem, isso agora não interessa!” – interrompeu a Tatá. “Vamos mas é traçar um plano! Comecemos por fazer um mapa do local! Aqui estamos nós!” – e a Tatá fazia uma cruz com um pauzinho de fósforo queimado num pedaço de papel que apareceu naquele momento arrastado pela deslocação de ar provocada pela passagem de um automóvel. Era um carro conduzido por uma senhora simpática acompanhada por um homem grande e de ar feliz e em cujo banco traseiro, repousava um cavaleiro de papelão montado numa tenaz, de papel.
“Então, prestem atenção!” – reclamava a Tatá. “Aqui é a torre da igreja, onde nós estamos! Aqui ao lado é o quintal do senhor Avelino onde está o carvalho de onde vocês caíram em cima do gato amarelo! Vamos analisar o local novamente!” – acrescentou a Tatá, enrolando o pequeno mapa e metendo-o debaixo do braço. Encostados ao muro que separava o quintal do senhor Avelino da rua da igreja, os três ratinhos foram caminhando cautelosamente até ao portão da entrada. Uma vez lá, passaram por baixo, em direcção à velha árvore e começaram a olhar primeiro para cima, à procura do ramo onde estiveram pendurados e, depois, quando o avistaram, seguiram com o olhar o trajecto da queda, para calcularem o local provável da “aterragem”. “Foi aqui!” – exclamou a Tatá com toda a segurança. “Vêem estes pêlos amarelos e muitas marcas de patas de gato e patinhas pequenas? Tenho quase a certeza de que foi aqui que os dois caíram! Agora reparem nestas marcas, como se alguém tivesse rebolado!” Merlin e Bé estavam admirados com tão grande perspicácia. “Isto é matemático meus caros!” – justificava a Tatá. “Vamos ver onde acabam as marcas do rebolado! Reparem, acabam aqui, ao pé desta cameleira branca!” “Branca?” – admirou-se a Bé. “Sim, branca, porque dá flores brancas!” “Reparem, está tudo cheio de pétalas dessa cor. Como se alguém tivesse dado um abanão à arvore e ela tivesse deixado cair as pétalas das suas flores!” A Bé abanava a cabeça em sinal de assentimento enquanto analisava as marcas de unhas deixadas por alguém que parecia ter subido pela trepadeira, junto à parede do edifício ao lado. Era o velho teatro. Nele actuaram, noutros tempos, grandes nomes da cena nacional, mas que agora, recatada e pacatamente, viviam na Casa do Artista, sem o brilho e os aplausos dos tempos de glória. “Parece-me que a Luna pode ter subido por aqui!” – exclamou a Bé. “Mas porquê? Se eu, durante a queda lhe gritei: Espero por tiiiiiii…no campanááááário…” “Isso não sei! Mas algo me diz que a Luna foi atraída por uma força estranha, talvez vinda daquela janela!” – garantiu a Bé. “Ela não teria feito esta perigosa escalada sem uma boa razão!” – acrescentou. “ Ou sem um boa dose de louco entusiasmo, como é seu costume!” – defendeu Merlin. “Devemos subir também a trepadeira para tentar encontrar Luna ou devemos ir outra vez para o campanário e esperar que ela vá lá ter?”
Desta vez, os três ratinhos tinham sérias dúvidas sobre o caminho a tomar e se voltariam a encontrar-se com Luna. Sentiam uma angustiante dúvida que, acreditavam, tão cedo não iam conseguir resolver!...