Numa janela da casa da esquina do Beco da Rua da Paz vivem o João e o Sebastião. Eles passam o tempo dentro de água. Por vezes, o Sebastião bate com a cabeça no vidro mas, entretanto, aparece a Luzinha Mágica, como lhe chama o João, acompanhada de um som que parece um clic e ele lá vê o caminho. Às vezes, eles andam a brincar às escondidas, ou fazendo corridas, um atrás do outro, mesmo de noite. É difícil brincarem nestas circunstâncias mas, clic, a Luzinha Mágica aparece sempre nas situações mais problemáticas. Por exemplo, quando o Sebastião anda à procura do almoço no meio das pedrinhas de areia, nem sempre vê muito bem mas a Luzinha Mágica aparece na altura certa e ele lá encontra a paparoca. Outras vezes, o João anda à procura dos brinquedos mas está uma escuridão que nem se vê um palmo à frente do nariz: lá vem a Luzinha Mágica e ele encontra tudo num instante. Um dia, o aquário foi levado para junto da janela da casa de banho, não se sabe por quem. De repente, só se ouviu um enorme som contínuo de água a correr. Acharam estranho, porque a vida no aquário era mais ou menos pacífica e nunca acontecia nada de extraordinário, excepto daquela vez em que o Sebastião ficou a boiar de cabeça para baixo e barriga para cima, sem se conseguir virar. Tinha sido o cabo dos trabalhos se a Luzinha não tem aparecido para iluminar o campo de visão e tudo ser reposto na devida ordem. Mas, daquela vez, o caso parecia ser mais sério. Até porque, nem barriga, nem olhos, nem barbatanas, tudo pareceu um turbilhão, uma catástrofe de pernas para o ar. A água começou a jorrar do aquário para um enorme recipiente branc,o que tinha ao longe uma espécie de cascata, com umas coisas brilhantes e redondas em cima. Parecia que estava a haver um maremoto mas de água doce e sem ondas. Era como fazer surf sem prancha, ou andar de escorrega na água. Quando chegaram lá abaixo, suspiraram de alívio, por não terem perdido nenhuma barbatana, mas foi cá um susto. O João ainda fez um galo na testa porque caiu com muita velocidade e foi bater na parede branca, por baixo das coisas brilhantes e redondas, mas depois até lhe soube bem, porque tinha um espaço muito maior para nadar à vontade. Demorou foi muito tempo a encontrar o Sebastião que, estonteado com o salto, ficou imenso tempo a olhar para todos os lados sem saber para onde ir. O certo era que o novo aquário era muito maior e podiam brincar às escondidas sem correrem o risco de baterem com a cabeça nas paredes. Era muito mais espaçoso. Já a Luzinha é que nunca mais foi vista: as paredes eram brancas e opacas, não se via nada lá para fora. Estavam eles a pensar nisto, quando uma espécie de rede de pesca os apanhou um a um e os meteu novamente dentro do aquário de vidro. Foi como estar a comer um gelado e ele cair ao chão. Ou como estar a brincar com um balão e ele rebentar. Foi pena, estava a saber tão bem aquela sensação de liberdade. Repararam que a água estava mais límpida e a areia mais branca mas era um espaço consideravelmente mais pequeno. Então, olharam através das paredes de vidro e viram a Luzinha a brilhar como um enorme sorriso protector e isso trazia muito maior felicidade às suas vidas do que viverem num espaço maior.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
A Luzinha Mágica
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Esta Luzinha mágica é sobejamente conhecida!!!!!
História fofa que promove a liberdade, no seu íntimo.
beijinho, continua...ah, já agora deves mostrar a história às personagens reais.
Meg
Olá Flora. Foi a Guida que me deu o link para o teu blogue.É uma bonita história com uma excelente narrativa. Gostei muito. Deves continuar a contar histórias e outras, pois acho que tens uma queda especial para fazer excelentes narrativas. Parabéns.
Luís Duarte
Enviar um comentário