O anafado e felpudo gato amarelo espreguiça-se, deitado, aproveitando a nesga de sol que, ao meio-dia, pinta a soleira da porta onde o sapateiro trabalha. Passa o dia para cima e para baixo com ar empinado. Toda a rua lhe pertence e toda a gente se mete com ele: é o rei da rua da Paz.
Todos os dias o sapateiro traz um petisco de casa: ontem uma rodela de chouriço, hoje uma cabeça de peixe cozido. O gato sabe que visitando o beco da rua da Paz nunca sai de estômago vazio.
Um dia, apareceu um cliente muito exigente: queria o trabalho terminado para o próprio dia, nem que fosse à meia-noite. O sapateiro não podia recusar, o cliente era importante, pagava bem e a pronto. O dinheiro dava jeito e isso compensava a falta do jantar.
As horas passavam e, em casa, a mulher do sapateiro estava inquieta – o jantar arrefecia.
Era muito tarde e o sapateiro continuava o seu trabalho. Uma pasta em couro, tinha o fecho avariado que era preciso substituir. Havia que cozer e cozer. O frio e a fome não aligeiravam os dedos. Foi então que o sapateiro sentiu algo a empurrar a porta, que estava encostada. Assustou-se e perguntou: “-Quem está aí?” Nenhuma voz respondeu. Preparado para o que desse e viesse o sapateiro levantou-se. Já disposto a atirar o pesado banco de três pernas onde se sentava, caiu, desamparado, no chão, ao ver o gato amarelo que soltava um curto mio, enquanto ofertava um gordo ratinho de pêlo brilhante cinzento escuro, para o jantar.
1 comentário:
Julguei que o Garfield só comia lasanha :)
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