Na escola, o Pedro era conhecido por ter jeito para desenho. Muitas vezes a professora Alzira deixava a sala para ir mostrar às colegas das salas vizinhas os desenhos do Pedro. Esse dom para desenhar era para ele próprio um mistério,já que, quando pequeno, não se atrevia a pegar num lápis para desenhar o que quer que fosse. Isto aconteceu durante alguns anos até ao dia em que encontrou um lápis vermelho, seistavado e com letras douradas. O lápis parecia ter aparecido do nada pois, antes de o encontrar no chão do seu quarto, o Pedro não tinha dado pela sua presença. Mais misterioso ainda, era o facto do lápis ter desaparecido imediatamente a seguir a tê-lo encontrado. Foi um episódio que lhe fez perder alguns minutos de atenção mas logo esqueceu, uma vez que não era o tipo de objecto que lhe interessasse muito.
Um dia, porém, ao dar a volta à cama para pegar uns livros que haviam escorregado no intervalo que aquela fazia com a parede, encontrou-o novamente e isso recordou-lhe as circunstâncias do seu aparecimento repentino, da primeira vez. Resolveu pegar nele. Era, na verdade, um bonito lápis. Enquanto olhava para ele, o avô Carlos que passava diante da porta semi-cerrada do quarto do Pedro, ao ver que o neto admirava o lápis vermelho, aproximou-se e sussurrou:
“É bonito, não é?”
Pedro olhou para a porta, surpreendido, pois não contava com a presença do avô.
“É sim, avô!”
“Tiveste muita sorte em “ele” ter ido ter contigo!”
“Como assim, avô?”
“Esse lápis não vai ter com qualquer um. É mágico!”
“Mágico?”
“Sim! Já me veio parar às mãos uma vez, quando era mais ou menos da tua idade!”
E, enquanto falava, o avô ia entrando no quarto do Pedro, sentando-se ao lado do neto, na beira da cama.
“E ele apareceu assim, sem mais nem menos?” - admirou-se o Pedro.
“Sem mais nem menos!”
“Isso é muito estranho! A mim aconteceu-me o mesmo há dias atrás!”
“Pois, parece que é uma característica deste lápis! Quando o encontrei também me pareceu surgido do nada!”
“Mas, avô, o que aconteceu a seguir?”
“A seguir peguei nele e, sem saber como, senti-me impelido a procurar uma folha de papel para ver como era o seu traço!”
“E como era?”
“Era cinzento, brilhante, fino e grosso, leve e carregado!”
“Tudo isso, avô? Como é possível?”
“Foi o acontecimento mais marcante da minha infância! De repente o lápis parecia ter ganhado vida, traçando linhas rectas, curvas fazendo surgir formas extraordinárias de elefantes, árvores fantásticas, flores nunca vistas, edifícios altos, com muitas janelas e balcões, pássaros riscando o céu, nuvens encaracoladas, pessoas caminhando de um lado para o outro, uns a trabalhar, outros a passear, automóveis, aviões, barcos num mar calmo com o pôr-do-sol no horizonte…”
“Avô, achas que pode acontecer o mesmo comigo?”
“Sim, filho, não é difícil! Basta pegares nele, numa folha de papel e deixares-te levar pela sua vontade! É até provável que vejas antecipadamente, no papel as formas que ele fará realçar! Ele irá contar-te histórias que nunca imaginaste poderem existir!”
“Obrigada, avô! Hoje mesmo vou descobrir os segredos do lápis mágico!”